quarta-feira, 12 de maio de 2010

A beatificação da cumplicidade com o nazismo

A beatificação de Pio XII por insistência do Papa Bento XVI constituirá a celebração de um silêncio mortal, a celebração do oportunismo e a celebração da cumplicidade com o pior da história do século XX. Aliás, o silêncio e a inacção da igreja perante os casos de pedofilia já são uma grande demonstração de coerência com a herança de Pio XII. Mas sobretudo, ao beatificar Pio XII, este Papa envia um sinal bem forte a todos os crentes de que mais vale estar calado, mais vale colaborar e mais vale aproveitar as pequenas oportunidades quando confrontados com as piores arbitrariedades cometidas nos seus locais de trabalho, nas suas famílias e nas suas comunidades.

Apesar do Vaticano precisar que a beatificação de Pio XII considera apenas "as suas virtudes enquanto cristão, pondo de parte qualquer apreciação da importância histórica de todas as suas decisões operacionais", com o mesmo critério poderíamos beatificar operacionais das SS, kapos dos campos de concentração e talvez inclusivamente alguns dos autores da solução final. Tenho a certeza que entre estes indivíduos havia gente perfeitamente honesta, louvável e integra antes de participar activamente na barbárie nazi. Mas é na adversidade que se testa a verdadeira integridade das pessoas ou, por outras palavras, o seu potencial de beatificação. Nesse particular Pio XII fez parte desse pelotão do silêncio, desse pelotão da cobardia perante a barbárie que foi um pelotão tão ou mais terrível que os próprios pelotões SS.

2 comentários :

João Vasco disse...

A celebração de homilias pelo aniversário de Hitler, todos os anos, desde que chegou ao poder até ao ano em que morreu, foi mais do que silêncio...

Ricardo Alves disse...

Pio 12 foi também responsável pelas «ratlines» que permitiram a muito nazi fugir da Europa com passaportes do «Estado» do Vaticano. O Vaticano ser um «Estado» também dá jeito para isso.