domingo, 18 de janeiro de 2009

Subculturas?

Até vir viver para o Texas sempre me considerei um conservador. Abominava os entusiasmos das utopias colectivistas e a Intersindical com a mesma repugnância com que imaginava os mongolóides das SA a imporem a nova ordem nacional socialista na Alemanha do início dos anos 30. repugnavam-me os jovens cubanos de lenço ao pescoço, quatro horas em pé a levarem com um sermão do camarada Fidel sobre a necessidade de pensarem todos a mesma coisa sobre o mundo para evitarem o caos e a destruição.

Nunca tive dúvidas que de a única causa do subdesenvolvimento portugês era a ICAR e achava, embora sem grande entusiasmo, que a França ou a Alemanha dos anos 70 e 80 representavam um modelo de sociedade mais equilibrado e mais livre do que a Noruega ou a Finlândia.

Achava os monárquicos portugueses uma curiosidade antropológica simpática, como os rosacianos e os vegetarianos.

As coisas degradaram-se bastante em Portugal com os garotos neo-cons que invadiram o PSD de Cavaco Silva e depois Guterres e o Opus Dei acabaram de me abrir os olhos para a calosidade neo-nazi do conservadorismo dos anos 80.

Com o passar da década de 80 deixei de votar AD para votar PS e depois PSR. Mas até vir para aqui e ver o que a direita fez ao planeta durante os últimos oito anos, nunca me tinha apercebido do fosso que separava a direita humanista (a minha) da direita dura.

Há um fosso cultural enorme e óbvio, entre os humanistas que lêem livros (que são hoje a esquerda) e os janotas que entulham os bancos da Baixa coma 'Bola' debaixo do braço (que são hoje o caroço da direita). Mas acho cada vez mais que há diferenças mais profundas e inconciliáveis entre nós. A simplicidade infantil dos argumentos da direita faz-me concordar com Krugman quando ele diz que o Partido Republicano é o partido dos estúpidos, ou com Dawkins, quando ele insinua que a religião é uma desordem neurológica que torna as pessoas burras e disfuncionais.

Esta tarde passei 5 minutos pelo "Blafémias" e achei que a idade mental daquele blog é para aí uns 12 anos. A sério. A ausência de nuances, a visão moralista, de um manicaísmo absolutamente infantil, é quase embaraçosa de ler.

Como é que pode haver diálogo, por exemplo, entre uma pessoa como Obama e esta gente, tão emotiva e tão simplória?

Onde é que está a direita intelectual dos anos 50 e 60?

Eu acredito que o mundo precisa de uma esquerda e de uma direita [sobre as diferenças entre a esquerda e a direita, vale a pena ver o vídeo de Haidt no TED (que acho que já indiquei aqui)], mas se o QI da direita continua a cair desta maneira o problema deixa de ser entre subculturas e passa a ser, como nos anos 30, entre os valores duma classe média diminuta e os duma maioria de mongolóides incivilizados e capazes das coisas mais horríveis...

14 comentários:

  1. Bom post.
    Acho que a personalidade das pessoas não muda (exepto em caso de uma catástrofe) mas felizmente politicamente á sempre uma hipótessse de se mudar, e o Filipe mudou para melhor. Infelizmente foi preciso ir ao Texas, mas o importante é que mudou e está aqui para nos contar as suas experiências na "Jesusland".
    Bem haja.

    ResponderEliminar
  2. "A simplicidade infantil dos argumentos da direita faz-me concordar com [...] Dawkins, quando ele insinua que a religião é uma desordem neurológica que torna as pessoas burras e disfuncionais."

    Obrigado pelo epíteto ou diagnóstico, nem sei bem. Vou já a seguir ao hospital ver se me trato. Assim se formam preconceitos que ensurdecem qualquer discussão....

    ResponderEliminar
  3. É um excelente teme para um debate mais amplo, numa altura em que as facções esquerdistas e direitistas tendem a cair num extremismo quase caotico, ler este post é quase como que dizer a ambos os lados, calma, não nos precipitamos porque as consequencias podem ser devastadoras.
    Pena é que este pensamento não alcance o maior numero de pessoas possivel.
    cpmts

    ResponderEliminar
  4. Quais foram as suas leituras antes de Paul K. e Richard D.?

    ResponderEliminar
  5. "Dawkins, quando ele insinua que a religião é uma desordem neurológica que torna as pessoas burras e disfuncionais"

    sabia que nem todos os crentes são de direita? juro!

    p.s.- o filipe não tem andado muito pelos blogs de esquerda, pois não?

    ResponderEliminar
  6. Para já os livros de Dawkins não são aceites na comunidade científica – ou melhor, são considerados entre a anedota e a ficção.

    Depois, por que os ateus são uma minoria insignificante, qualquer um pode assumir que o ATEISMO "é uma desordem neurológica que torna as pessoas burras e disfuncionais"... a prova está no proprio Dawkins e na seita dos que acreditam piamente nas suas palermices sem fundamento.

    ResponderEliminar
  7. «Depois, por que os ateus são uma minoria insignificante, qualquer um pode assumir que o ATEISMO "é uma desordem neurológica que torna as pessoas burras e disfuncionais"... »

    Ah!Ah!Ah!

    Está aí tudo.

    ResponderEliminar
  8. João:

    Felizmente que isso só afecta uma insignificante minoria.

    ResponderEliminar
  9. Achava o Filipe que a igreja era um dos causadores do atraso portugues mas acabou também ele por votar no PSR do seminarista Louçã :)

    ResponderEliminar
  10. A sério, Sr. Portuga: espero que perceba que a maioria dos meus comentários são sempre meio a brincar, ou exagerados, ou maniqueistas, porque eu acredito que em política ninguém é dono da razão; Mas os ateus não são uma minoria. As pessoas que se assumem ateias ou agnósticas aqui nos EUA são quase 45 milhões e são a maioria esmagadora nos grupos com mais anos de escolaridade: mestrados e doutoramentos.

    Aliás, pelo planeta fora e com as excepções do Canada e dos EUA rurais, há uma correlaço perfeita entre subdesenvolvimento económico e religiosidade, expressa em dias de frequência de cultos religiosos.

    Acho que isto dá que pensar: porque será que a religião é mais popular entre as pessoas menos educadas?

    ResponderEliminar
  11. LMD disse uma coisa muito importante: quando um dos lados extrema as posições, o outro é empurrado para o outro extremo, e os anos 60, com o Maio de 68, o movimento dos direitos humanos, o vaticano II e o movimento hyppie levaram a direita ao desespero e à histeria. Verdade que a direita é dada a ataques de histeria e que o Freud provavelmente explicou isto como contraponto ao puritanismo, aos jejuns e à castidade.

    E isto num contexto de erosão moral, em que a URSS ajudava a esquerda democrática a meter os dedos nas feridas todas dos regimes reaccionários e a destruir a auto-estima da direita.

    Galbraith desmascarou-lhes a careca com a conhecida frase: "The modern conservative is engaged in one of man's oldest exercises in moral philosophy; that is, the search for a superior moral justification for selfishness."

    ResponderEliminar
  12. Space_aye: Como diz LMD, os extremistas empurram os centristas para o outro extremo. E ver os evangélicos a dançarem à porta da prisão em Huntsville, em dias de execução, com garrafas de champagne e a contarem os segundos: "Five, four, three..." fez-me abominar toda a superioridade moral que venha associada a movimentos, sobretudo se eles se reclamam religiosos.

    Uma vez um casal de evangélicos disse-me num pub (em York, UK) que as crianças que tinham morrido no tsunami na Indonésia iam para o Inferno porque "não conheciam Jesus Cristo."

    ResponderEliminar
  13. Não acabei o meu comentário :o)

    Quando digo que a religião é uma desordem neurológica e uma coisa da infância da mente refiro-me a este tipo de cristãos, para quem a parte melhor do Céu é uma varanda de onde se pode ver os pecadores a sofrer nos caldeirões de azeite.

    E estes anormais são, infelizmente, a maioria dos cristãos, sempre a odiarem o mundo, sempre com uma pedra no sapato: em relação aos homossexuais, ou aos ateus, ou aos judeus, ou às mulheres que assumem a sua sexualidade de uma forma saudável, etc.

    ResponderEliminar
  14. Pedro, o cristão calmo (por enquanto :o), é uma minoria sem expressão na ICAR de hoje. Eu conheço imensos cristãos generosos e bem intencionados, que acreditam naquela máxima do Frei Bento Domingues: a tolerância é um pecado gravíssimo porque Jesus pregou aceitação, que é uma coisa completamente diferente.

    Eu acho que Jesus pregou isso e homofobia e o pai dele pregou limpezas étnicas, violações e destruições de cidades inteiras, genocídios e cheias que destruíram o mundo inteiro, às vezes por desentendimentos em relação à dieta dos fiéis...

    Mas se que o cristianismo fosse a mensagem helenística e hippie pregada pelo Frei Bento Domingues, a ICAR não era cristã.

    ResponderEliminar

As mensagens puramente insultuosas, publicitárias, em calão ou que impeçam um debate construtivo poderão ser apagadas.