domingo, 19 de março de 2006

As primícias da era cavaquista

Concordo na generalidade com o que disse Vasco Pulido Valente nas suas crónicas de sexta-feira e sábado no Público: as nomeações de Cavaco não auguram nada de bom. (A propósito, o Público de sábado confirma que Sampaio, em 1996, convidou o líder do CDS para o Conselho de Estado: ao contrário do que eu afirmara, o líder do CDS, nessa época, era Manuel Monteiro.)

A partir daqui, há dois perigos. O primeiro, que foi claro durante a campanha eleitoral, é que Cavaco queira efectivamente interferir na governação muito mais do que permitiria se fosse ele próprio o Primeiro Ministro. A encenação da «mesa de trabalho» (onde só faltou o portátil e um grosso dossiê...), se indiciar mais do que uma mera encenação, aponta dois caminhos a Sócrates: fazer a política de Cavaco e ser por ela responsabilizado, ou ir a eleições no espaço de um ano.

O segundo perigo é que os acompanhantes de Cavaco queiram combater uma «guerra cultural». Cavaco foi eleito para nos encher a todos de «confiança» e para indicar o caminho ao Governo em assuntos económicos; é possível que se deixe orientar em tudo o resto (diplomacia, direitos cívicos...) pelos fanáticos que levou para Belém. Se assim for, arrisca-se a dividir o país.

4 comentários:

  1. Declaração de interesses: não li as crónicas no público.
    No entanto neste texto existe algo que eu não concordo -

    ""fazer a política de Cavaco e ser por ela responsabilizado, ou ir a eleições no espaço de um ano."

    Acho que existem duas situações aqui:
    a) socrátes quer fazer a politica de cavaco,ou mesmo ir para lá dela;
    b) Não acredito que vá para eleições dentro de um ano;e caso fosse seria penalizado na opinião pública por isso que, eventualmente, se voltaria para cavaco como o salvador.

    Adicionalmente penso que estás, ricardo a dar um benefício de dúvida a socrátes e ao pessoal que o acompanha que ,manifestamente, na minha modesta opinião é profundamente injustificado...

    Socrátes não é o que parece...
    embora toda a gente jure aos seus deuses pessoais que socrátes é socialista coisa que não é.

    e cavaco quer, de facto, interferir em qualquer governo - quer dirigir ele à distancia um qualquer governo eleito.

    Quem faz os discursos que ele já fez mostra ao que vem.
    Ali não existem as ambiguidades frouxas do senhor sampaio.
    Ali está tudo dito - quer directamente, quer nas entrelinhas

    E ele aplicará pressão para que as coisas sejam como ELE quer.

    E a "vantagem de jogo " está com ele; não com o aprendiz neoliberal socrátes nem com o partido se sombras vindas directamente da alegoria da caverna que o acompanham.

    Cavaco sabe jogar, e conhece o cargo do lado de lá -o de primeiro ministro e passado um ano conhece o cargo do lado de cá - o de primeiro ministro.
    Ele aprende rápido e toma decisões sem hesitações,nem estados de alma.

    Apenas previligia a economia e as decisões concretas sem se preocupar com esse enorme aborrecimento que é o de ter de garantir um apoio legitimado por uma pratica democrática de fazer as coisas.
    E as figuras cinzentas que o acompanham mais ainda

    Logo, algures pelo meio ele irá chocar com socrátes e o partido socilaista neoliberal.

    Além disso estamos a lidar com humanos: a tentação para cair no sentimento de revanche e de dar troco é enorme.

    Tendo em conta as "características da manada que acompanha cavaco achas mesmo tu, ricardo, que esse pessoal não irá sentir o quase sexual e religioso desejo de aplicar uns golpes no PS ou na esquerda)?

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  2. Pedro Silva,
    por enquanto dou o benefício da dúvida a Sócrates. Tem tido a coragem de atacar algumas corporações (não que isso seja suficiente...).
    Mais tarde ou mais cedo, haverá contradições entre Sócrates e Cavaco. Não necessariamente por grandes questões ideológicas. Não é disso que se trata.

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  3. Ricardo:

    És melhor pessoa do que eu.

    Eu já não consigo dar nenhum beneficio da dúvida a socrátes.

    E modestamente,não acho que socrátes esteja a atacar as corporações onde doí.
    Como não as "mata" agora irá morrer ele num futuro próximo.
    Mas, a morte política dele não me aquece nem me arrefece.

    Já o partido de confusos socialistas neoliberais que está a ser "opado" por interesses privados,isso incomoda-me que aconteça.

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  4. Alguém já se esqueceu que Sócrates começou a vida política no PSD?

    E já agora.. Alguém leu a «revista económica» do Público desta Segunda-Feira? Vejam em que banco estão os dinheiros da maioria dos nossos ministros «verdadeiramente socialistas»...

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